Sunday, November 13, 2005

Elephant

Desde aquele derradeiro post que não cá tinha voltado. Não porque não me interessasse, não porque não tivesse vontade, mas por pura falta de tempo. E também porque tenho renegado este meu blog por uns dias, para deixar assentar algumas ideias (e arranjar outras).

Mas a principal razão para vir cá escrever outra vez foi um filme que vi, ontem. O nome desse filme é aquele que está como título deste post – Elephant. Não me perguntem, depois de eu explicar o filme e as minhas interpretações, o que é que isto tem a ver tudo. Não sei. Mas é como tudo (Português, Gramática, sei lá...) – por vezes não há qualquer relação entre o título, o termo, a casca, e aquilo que é, que existe verdadeiramente, o miolo, as entranhas... (isto está estranho, está...). Voltando ao filme: não sei se alguém aqui já ouviu falar do massacre de Columbine. Não?

Toda a gente sabe que na América (nos Estados Unidos) é possível ter acesso a armas com relativa facilidade (isto já vem do tempo do far-west, dos desperados, etc...). E que nas escolas (secundárias) por vezes existem situações algo humilhantes para certas pessoas... e os jogos de vídeo, combinados com violência, Hitler, fanatismo e alienação, por vezes dão uma mistura explosiva. Foi o que aconteceu em Columbine. Creio que foram dois adolescentes, armados com armas de fogo e explosivos (isso não consigo provar totalmente), que entraram pela escola, e mataram vários alunos e professores, como que se vingassem daquilo que alguns tinham feito, e de outros que eram passivos o suficiente para deixar que aquilo acontecesse... De seguida, suicidaram-se.

O filme que eu vi é bastante análogo. Apesar de ser uma situação indefinida (o nome da escola, os locais, mesmo os nomes são algo vagos), os pormenores, as semelhanças com vários massacres do tipo Columbine são assustadoramente reais. E a realização do filme, o modo como é filmado, como as cenas foram arranjadas, é absolutamente fenomenal. Dá-nos algum background dos assassinos, certas situações que podem ser consideradas sintomas de algo muito sério, não querendo, evidentemente, tornar isso causa do seu comportamento e de certo modo desculpá-los (isso seria o pior que se poderia fazer). Também é interessante a maneira como o realizador (já agora, que falei tantas vezes disto, digo o nome: Gus Van Sant) explora as personagens, que, apesar de isoladas, raramente estabelecerem ligações umas com as outras (não esquecer que é uma escola secundária), e vão participar todas no mesmo drama. Também há uma preocupação em mostrar um pouco a personalidade das personagens, não funcionarem apenas como vítimas, e isso ajuda, quanto muito, a apelar a um certo sentimento de revolta no público.

E digo revolta porque, por muito humilhados, muito renegados que possam ser esses dois estudantes, nunca poderão ter o direito de decidir a vida e a morte de outros. Ao fazerem isso, estarão a destruir futuros, a destruir, no fundo, um ser humano, e ainda para mais, um ser humano inocente, na maior parte das vezes.

Trailer, aqui: http://progressive.stream.aol.com/newline/gl/newline/trailers/elephant/Elephant-700-FF_dl.mov

Normalmente, eu nem sou muito adepto de cinema, (aliás, a maior parte das vezes, os filmes que vejo passam na televisão), mas existem certos filmes que me marcam. E este foi um deles. Recomendo. Quanto mais não seja pela reflexão que lhe vem associada.

Por vezes, existem problemas mais graves que passam por vezes mais despercebidos do que outros menos graves. Esses problemas que eu considero graves, são, aos olhos da sociedade, menores. E depois acontecem estes eventos trágicos.

Deixo-vos com isto.